segunda-feira, 22 de novembro de 2010

No outro lado da rua

No outro lado da rua

No outro lado da rua
Estava uma mulher plastificada,
Acabara de deixar alguma doação a uma instituição.
O valor não pagava a bolsa que carregava,
Dentro dela tinha de tudo, menos identidade.

No outro lado da rua
Havia uma pequena mão trêmula
Sem levantar os olhos pedia
Um pedaço de pão, alguma comida.
Ficou com o lixo, passou mais um dia.

No outro lado da rua
Essas figuras se misturaram
E o abismo que os separava
Refletia-se no olhar não cruzado.
Um porque não via abaixo do seu centro,
O outro porque era amigo do chão.

No outro lado da rua
Eu vi a hipocrisia caminhar
Ao lado da desigualdade,
O desperdício em futilidades
Que priva a vida de uns.

No outro lado da rua.
Do outro lado da rua,
Ou seria deste?

(22/11/2010)